Em 2023, fui convidado por um empreendedor autônomo para transformar uma dor real — a desorganização dos rendimentos em Fundos Imobiliários (FIIs) — em um MVP funcional. Como investidor, ele vivia a frustração de não conseguir visualizar com clareza quais ativos já haviam pago dividendos, quando os próximos pagamentos ocorreriam e quanto ele receberia no mês. Com poucos recursos e um time extremamente enxuto — apenas um designer e um desenvolvedor — tínhamos um desafio claro: simplificar a gestão de FIIs com foco total na experiência do usuário.

Assumi o papel de Product Designer Sênior liderando o projeto de ponta a ponta, aplicando uma abordagem híbrida de Design Thinking e Lean UX. O processo começou com uma fase de escuta ativa. Conduzi entrevistas com 12 investidores de perfis variados para entender seus fluxos, desafios e as soluções que utilizavam no dia a dia, como planilhas ou apps bancários genéricos. A análise dos dados revelou três perfis distintos de comportamento — o Previsor, o Organizador e o Monitorador — cada um com expectativas específicas sobre como acompanhar os dividendos e ativos. Paralelamente, fiz benchmarks com outros aplicativos financeiros e de investimentos e identifiquei que, apesar de tecnicamente bem resolvidos, nenhum deles oferecia uma visão clara e focada exclusivamente em FIIs. Essa descoberta reforçou a oportunidade de atuar em um nicho pouco explorado.

Com base nesses aprendizados, definimos um escopo de MVP enxuto, mas altamente direcionado às necessidades reais dos usuários. A principal entrega foi a visualização mensal dos recebimentos projetados, com destaque para os dividendos já pagos e os valores ainda previstos. Desenvolvemos também um painel consolidado da carteira de ativos, oferecendo detalhes essenciais de cada fundo de forma prática e objetiva. A interface foi desenhada com foco em clareza, leveza visual e navegação intuitiva — permitindo uma leitura rápida das informações mais importantes. Uma das decisões críticas foi eliminar o processo de autenticação e o onboarding inicial, com o objetivo de reduzir fricções e colocar o app no mercado o quanto antes. Para garantir uma boa experiência mesmo sem essas etapas, desenhamos fluxos guiados com explicações contextuais, que ajudavam o usuário a entender rapidamente como navegar e interagir com o app.

O lançamento do EasyFII foi conduzido de forma orgânica, com uma meta estratégica bastante clara: validar se a solução resolvia, de fato, uma dor real com um grupo inicial de usuários altamente engajados. Estimamos que atingir cerca de 100 usuários ativos nos dois primeiros messes já seria suficiente para coletar feedbacks relevantes e orientar os próximos passos do produto.

Com esse foco em validação e aprendizado, o desempenho superou as expectativas iniciais: alcançamos aproximadamente 150 usuários ativos, o que representou uma adesão 50% acima do projetado. Mais importante do que o volume foi a qualidade do engajamento. Os feedbacks espontâneos reforçaram pontos críticos da proposta de valor — clareza na visualização de dividendos, facilidade de uso e economia de tempo.

A avaliação média de 4,8 estrelas na App Store, combinada com mensagens que destacavam o alívio de não depender mais de planilhas ou anotações soltas, evidenciou que o produto estava cumprindo seu papel funcional e emocional. Esses sinais validaram não só o design da solução, mas também a oportunidade de mercado, justificando a continuidade do desenvolvimento e o planejamento de futuras features.

Essa primeira fase cumpriu exatamente o que um MVP bem estruturado deve entregar: aprendizado concreto, alinhamento com o problema real do usuário e base sólida para evolução do produto.